Friday, July 09, 2004

Recordar a Cidade histórica de Cacheu – Guiné-Bissau

No Dia Mundial d´África, 25 de Maio, convidei os leitores a percorrer uma linda e histórica cidade, que foi já capital da Guiné e para onde os heróis portugueses recolheram depois da independência, em Setembro de 1973.

A cidade de Cacheu situa-se no noroeste da Guiné-Bissau, na margem esquerda do rio com o mesmo nome, um rio largo e serpenteado que entra pelas terras dentro, qual benesse para as família que se alimentam do peixe que a majestosa natureza oferece.

A cidade conta no seu núcleo urbano com pouco mais de 5 500 habitantes e no sector, o equivalente aos nossos concelhos, residem pouco mais de 15 000 pessoas. A Região de Cacheu, com 146 000 habitantes, é a terceira mais populosa da Guiné. O país perfazendo o milhão e trezentos mil guineenses (1998).

Cacheu foi a primeira feitoria portuguesa na África ocidental, quando os portugueses aí aportaram em 1588 e a primeira capital da Guiné. O fortim é o ex-libris dessa distante época, mas sofre da irremediável degradação da sua estrutura, que o tempo não perdoa quando os homens desleixam. Dispõe ainda de algumas casas coloniais, a Casa Gouveia, o Armazém de frutos e arruamentos típicos mas sem a manutenção necessária para este tipo de património histórico.

As construções levantadas para as Comemorações do quarto centenário da cidade, em 1988 – Bungalows, Hotel Baluarte, Gimnodesportivo, etc, exigem uma intervenção rápida de restauro e que lhes dêem também um destino ocupacional merecido. A natureza não perdoa e invade frondosamente terras, lugares e património construído, imprimindo um tom geral verde intenso na paisagem guineense. A mesma cor que nós desfrutamos, aqui no Minho

Nossa Senhora da Natividade (padroeira de Cacheu) é a primeira Igreja portuguesa na costa ocidental africana, monumento a necessitar de obras de preservação avaliadas em uma centena de milhares de Euro, quem o afirma são as irmãs que residem bem perto.

Estas irmãs brasileiras da Congregação de Nossa Senhora da Aparecida, radicadas há mais de quinze anos em Cacheu, dispensam tratamentos de enfermagem de primeira necessidade e assistem a população local no devir espiritual. São afáveis e solidárias, sempre, com as gentes de Cacheu. Como é bom saber deste empenhamento e podermos ajudar.

Mas a cidade também fervilha da actividade dos cacheuenses na sua labuta diária pela sobrevivência, nas condições difíceis que conhecemos e que perduram, infelizmente. No Sector de Cacheu destaca-se um conjunto de Serviços da Administração Pública, dos Sectores Económico, social e cultural e do tecido associativo.
Da administração pública destaca-se

- O Governo da Região de Cacheu, sediado nesta cidade por ser a capital histórica da Região, sendo Canchungo a capital económica, situada a 30 kms a Sul.
- A Administração do sector, equivalente a uma autarquia local, mas dependente do Ministério da administração interna;
- O Comité de Estado (ex-Comité do Partido e Estado)
- Uma Delegacia sectorial de identificação civil (Ministério da Justiça)
- A Capitania que controla o Porto de Cacheu, com entrada directa para o Oceano Atlântico. O farol movido a energia solar está avariado.
- O posto regional de polícia
- Polícia de Ordem Pública
- Polícia de Trânsito
- Polícia de Segurança do Estado
- A Junta autónoma dos portos
- O Dispensário equivalente a um centro de saúde (Delegação Regional em Canchungo)
- O Posto de correios
- A Delegacia regional do Comércio
- A Delegacia regional do Plano
- O Tribunal de Sector para as cidades Cacheu, Bula e Calequisse
- A Delegacia sectorial da Educação
- Dezassete Escolas do ensino básico elementar, até 4 anos de escolaridade
- Uma Escola do ensino básico complementar, até 6 anos de escolaridade (as escolas funcionam em dois turnos, sendo um das 7 às 11 horas e outro das 11 às 15 horas)
- A Delegacia da Juventude, Cultura e Desportos
- O Cemitério

O sector económico constitui-se

- Duas empresas de pesca (Uma cooperativa e uma limitada)
- Quatro mercearias, onde se encontra de tudo
- Quatro “distribuidores de bebidas” que servem de bares
- Uma sala de dança, muito frequentada pela juventude
- Algumas “butiques” de rua, que vendem um pouco de tudo
- Um mercado municipal à quarta-feira com muitos feirantes
- Uma Associação de horticultura comunitária

Do sector social e do tecido associativo

- Associação dos Filhos e Amigos de Cacheu (Afasca)
- Jardim de infância (“O Girassol”)
- Associação de pescadores
- Associação Comunitária de Mulheres (Acom de Cacheu)
- A Congregação de Nossa Senhora da Aparecida
- O Centro de Cooperação de Cacheu
- União Internacional de Conservação da Natureza (Gere o Parque natural de Tarrafes, existente na Região de Cacheu)
- Igreja evangélica
- Dois templos católicas
- Delegação de Cruz Vermelha
- A“corporação” de bombeiros
- O Vitória Futebol Clube de Cacheu, com algumas valências:
- Um Clube sénior com 25 jogadores
- Um Clube júnior masculino
- Um Clube júnior feminino
- Uma Equipe de Basquetebol
- Uma Equipe de Atletismo

Estas são as principais e mais activas estruturas associativas de Cacheu.

A cidade de Cacheu não tem condições para rivalizar com outras cidades tropicais e mais atractivas, como as próximas senegalesas, cabo-verdianas, ou são tomenses mais a sul, mas pode oferecer um turismo diferente, mais ecológico, de descoberta e reconhecimento patrimonial, de percursos históricos que os portugueses plantearam, por fim, a irresistível humanidade que os guineenses e os cacheuenses em particular, irradiam quando estão connosco. Os sorrisos rasgados das crianças, os olhares meigos e confiantes dos mais velhos, o sol e o calor intensos como únicas testemunhas de uma solidariedade entre irmãos.
Mais informações sobre esta cidade
(www.cm-viana-castelo.pt/gric)

Arnaldo Ribeiro, no dia mundial d´África.